domingo, 12 de novembro de 2017

Anvisa libera medicamento para tratamento de doença de Crohn


Aos 30 anos, X. se aposentou por invalidez. Ainda cheio de planos, viu sua vida parar por conta de uma doença que lhe tirou a liberdade e a qualidade de vida. Foram cerca de oito meses de sangramentos e dores fortes até que chegaram ao diagnóstico: ele tinha doença de Crohn, uma doença inflamatória séria do trato gastrointestinal. Mas se a falta de informação leva boa parte dos pacientes a um longo calvário até a descoberta da causa dos episódios de diarreia, cólica, febre e sangramento retal, as poucas opções terapêuticas tornam o tratamento um desafio. Uma boa noticia é a chegada ao Brasil de um novo medicamento biológico, com um diferente mecanismo de ação, ampliando as armas hoje disponíveis para controlar a doença.

Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o ustequinumabe é indicado para pacientes que apresentam a doença de forma moderada a grave e que falharam ou foram intolerantes ao uso de corticoides, imunossupressores (reduzem a atividade do sistema de defesa do corpo) ou de outros medicamentos biológicos anti-TNFs (anti fator de necrose tumoral), que bloqueiam um dos estágios do processo que provoca a inflamação.

O medicamento, que já e usado no Brasil para o tratamento de psoríase em placa e artrite psoriásica e, agora, está liberado para Crohn, interrompe a inflamação em um ponto diferente da resposta imunológica. Estudos clínicos do remédio, que envolveram mais de 1.300 pacientes em diversos países, incluindo o Brasil, mostraram que a maioria dos pacientes tratados com ustequinumabe manteve a resposta ao tratamento e obtiveram a remissão da doença (sem sintomas) por até dois anos. Outra ponto positivo verificado nos estudos foi a resposta rápida. A droga tem o nome comercial Stelara e, segundo o laboratório Janssen, fabricante do remédio, a previsão é de que esteja disponível no mercado em dezembro.

De acordo com a gastroenterologista Cristina Flores, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre - um dos sete centros brasileiros que participou do ensaio clínico do medicamento com pacientes com doença de Crohn - a resposta ao tratamento já pôde ser observada na terceira semana após a primeira aplicação. E, para quem sofre com dores, diarreias e sangramentos, esse resultado é animador.
- Com essa doença, vivo a base de remédios e dieta. Eu fico trancado em casa, porque tenho medo de sair e precisar ir ao banheiro - conta X, de 36 anos, morador de São Gonçalo.

A doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica que pode atingir qualquer parte do trato gastrointestinal. Os sintomas podem variar, mas geralmente incluem dor e sensibilidade abdominal, sangramento retal, perda de peso, febre e diarreia frequente - em alguns casos, por mais de 20 vezes ao dia.

A doença não tem cura. O tratamento busca controlar a inflamação e proporcionar a cicatrizacão da mucosa do intestino. Não se sabe a causa dessa doença autoimune.

A ação do ustequinumabe para pacientes com Crohn foi apresentada a um grupo de cerca de 50 médicos brasileiros, nesta quinta-feira, durante um seminário em Orlando, na Florida. O evento aconteceu durante o congresso AIBD 2017 - Advances in Inflamatory Borel Diseses, que abordou tratamentos multidisciplinares para pacientes com doenças inflamatórias intestinais.

Fonte: Jornal Extra

0 comentários:

Postar um comentário